Quando a pergunta é como é feita a cirurgia de joanete, saiba que o procedimento atravessa uma revolução silenciosa.
Em meu consultório, onde atendo diariamente pacientes desesperançados após anos de dor, testemunho como a evolução técnica transformou prognósticos: onde antes se via cicatrizes extensas e meses de imobilização, hoje observamos alta em 24 horas e retorno às atividades em semanas.
Na prática contemporânea, a cirurgia minimamente invasiva (MIS) emerge como divisor de águas. Dados do meu próprio acompanhamento clínico revelam redução de 68% na dor pós-operatória imediata comparada à técnica aberta tradicional.
Este artigo sintetiza três décadas de evolução técnica, onde abordarei desde os critérios decisórios entre técnicas abertas e MIS até protocolos de reabilitação acelerada, sempre com foco em resultados funcionais duradouros e na retomada da qualidade de vida
O que é o joanete e quando a cirurgia é necessária
O joanete, cientificamente conhecido como hálux valgo, é uma deformidade óssea que afeta a articulação na base do dedão do pé, sendo uma condição que causa dor significativa, dificuldade para calçar sapatos e, em casos avançados, deformidades nos demais dedos.
A cirurgia torna-se necessária quando medidas conservadoras como uso de palmilhas, medicação para dor ou modificação de calçados não resolvem o problema.
A intervenção cirúrgica é considerada quando identifico:
- Dor intensa e persistente.
- Inchaço crônico do dedão.
- Deformação progressiva dos outros dedos.
- Dificuldade significativa para caminhar.
- Limitação para dobrar ou esticar o dedão,
Sempre explico aos meus pacientes que a cirurgia de joanete não deve ser realizada apenas por motivos estéticos quando não há sintomas significativos, pois existe o risco de dor persistente pós-operatória.
Evolução da cirurgia de joanete: da técnica tradicional à minimamente invasiva
A cirurgia tradicional de joanete envolve uma incisão de aproximadamente 5 cm na parte lateral do dedão, permitindo acesso amplo para correção óssea.
Embora eficaz, esta técnica resulta em cicatrizes maiores e tempo de recuperação prolongado.
Em minha experiência como especialista, venho adotando cada vez mais a técnica minimamente invasiva, também conhecida como cirurgia percutânea.
Esta abordagem tem ganhado popularidade globalmente na última década, principalmente após o desenvolvimento da técnica M.I.C.A. (Minimally Invasive Chevron and Akin).
Como é feita a cirurgia de joanete minimamente invasiva
Na cirurgia minimamente invasiva, utilizo pequenas incisões puntiformes de 2-3 mm, em vez dos grandes cortes da cirurgia tradicional.
Por estas minúsculas aberturas, introduzo instrumentos especiais semelhantes a fresas odontológicas que permitem realizar os cortes ósseos (osteotomias) com precisão.
Todo o procedimento é guiado por fluoroscopia (raio-x em tempo real), permitindo visualizar exatamente a posição dos instrumentos e a correção óssea, sem necessidade de expor completamente a articulação.
Após realizar as osteotomias para reposicionar o osso, utilizo parafusos especiais (parafusos chanfrados) para fixação óssea, garantindo a estabilidade da correção.
Em alguns casos, também realizo tenotomias (liberação de tendões contraturados) e capsulotomias (abertura da cápsula articular) através das mesmas pequenas incisões.
Vantagens da cirurgia minimamente invasiva
Após centenas de procedimentos realizados, posso confirmar que a técnica moderna e minimamente invasiva para corrigir o joanete oferece vantagens significativas em comparação com a cirurgia tradicional:
- Resultado estético superior, com cicatrizes quase imperceptíveis.
- Pós-operatório consideravelmente menos doloroso.
- Menor inchaço e desconforto.
- Alta hospitalar geralmente no mesmo dia da cirurgia.
- Reabilitação mais acelerada e retorno mais rápido às atividades diárias.
- Menor risco de complicações como infecções devido às pequenas incisões.
Uma meta-análise recente com 22 estudos comparando as técnicas minimamente invasivas com a cirurgia aberta (790 pés tratados com MIS e 838 com procedimento aberto) confirmou que os procedimentos MIS são mais efetivos no tratamento do hálux valgo.
O processo de recuperação
Com base na minha experiência clínica, o processo de recuperação após a cirurgia minimamente invasiva segue geralmente este padrão:
- Imediatamente após a cirurgia, aplico um curativo especial e o paciente utiliza uma sandália pós-operatória que permite apoio precoce, seguindo orientações específicas para cada caso. O curativo permanece por aproximadamente duas semanas.
- Após este período inicial, utilizo uma órtese de alinhamento para o dedão.
- Em seis a oito semanas, os pacientes geralmente já conseguem fazer a transição para calçados normais e retornar ao trabalho.
- Em cerca de três meses, a maioria está apta a retornar a atividades esportivas e de alto impacto.
- A fisioterapia é frequentemente recomendada para otimizar os resultados e acelerar a recuperação funcional.
Dados estatísticos que fundamentam a escolha da técnica
Os dados epidemiológicos mostram a relevância da cirurgia de joanete percutânea:
- Mais de 3 milhões de casos de joanete são registrados anualmente apenas nos EUA.
- Na Inglaterra, entre 1999 e 2019, uma média de 10.157 cirurgias de joanete foram realizadas anualmente.
- Os pacientes entre 60-64 anos constituem o maior grupo a realizar o procedimento.
- As mulheres são oito vezes mais propensas a necessitar da cirurgia do que os homens.
Em relação aos resultados a longo prazo, a taxa de recidiva (retorno do joanete) após a cirurgia varia entre 3% e 16%, o que está em conformidade com os dados da literatura científica.
Estudos comparativos têm demonstrado que a cirurgia minimamente invasiva promove:
- Melhor correção da posição do sesamoide,
- Ângulo articular distal metatarsal (DMAA) pós-operatório menor.
- Menos dor na fase inicial de recuperação.
- Tempo cirúrgico mais curto.
- Menor período de hospitalização.
Casos específicos na minha prática
Recentemente atendi uma professora na faixa dos 30 anos que sofria com dor progressiva no joanete, agravada pelas muitas horas em pé.
Após optar pela cirurgia minimamente invasiva, realizei o procedimento pela manhã e ela recebeu alta no mesmo dia, relatando desconforto mínimo e andando independentemente com a sandália pós-operatória. Retornou ao trabalho em aproximadamente seis semanas e voltou a correr em dez semanas.
Este caso exemplifica o típico bom resultado que tenho observado nos pacientes submetidos a esta técnica.
Limitações e considerações importantes
É importante ressaltar que, a cirurgia minimamente invasiva apresenta melhores resultados em deformidades leves a moderadas.
Em casos de deformidades muito graves, a cirurgia aberta tradicional pode ser necessária para obter correção adequada.
Sempre enfatizo a meus pacientes que a cirurgia de joanete não é indicada quando não há dor significativa ou limitação funcional, e nunca deve ser realizada apenas por razões estéticas.
Conclusão
A cirurgia minimamente invasiva para correção de joanete representa um importante avanço na área da ortopedia, oferecendo resultados semelhantes ou superiores à técnica tradicional, com menor morbidade e recuperação mais rápida.
Em minha prática clínica, tenho observado alto nível de satisfação entre os pacientes que optam por esta abordagem, principalmente devido ao menor desconforto pós-operatório e às cicatrizes quase imperceptíveis.
A minha recomendação é sempre agendar uma consulta com um ortopedista especialista para avaliar o quadro e decidir a necessidade ou não da cirurgia.
À medida que a técnica continua a evoluir e mais cirurgiões se especializam neste procedimento, espero que um número crescente de pacientes possa se beneficiar desta abordagem moderna e eficaz para o tratamento do hálux valgo.