Pé de Charcot compromete ossos e articulações do pé e tornozelo, alterando toda a estrutura da região.
Conforme o quadro evolui, surgem fraturas, deslocamentos e deformações, especialmente em quem já tem neuropatia periférica — situação comum em pessoas com diabetes.
Identificar o problema cedo e começar o tratamento reduz o risco de úlceras e pode afastar a necessidade de amputação.
História da artropatia de Charcot
A artropatia de Charcot foi descrita pela primeira vez em 1868, pelo neurologista francês Jean Martin Charcot, em um paciente com sífilis avançada.
Décadas depois, foi reconhecida também em portadores de neuropatia diabética. Atualmente, a maioria dos casos está ligada ao diabetes mal controlado.
O que é pé de Charcot?
Essa complicação provoca danos contínuos nos ossos e articulações, fazendo o pé perder sua forma original.
O que mais pesa nesse processo é a perda da sensibilidade nos pés. Por causa disso, machucados pequenos acabam não sendo percebidos e podem virar fraturas ou deformações ao longo do tempo.
O formato mais típico é o chamado “pé em mata-borrão”.
Epidemiologia
O pé de Charcot acomete menos de 1% das pessoas com diabetes, mas esse número pode chegar a 16% entre diabéticos que já têm neuropatia.
Ainda assim, o diagnóstico costuma ser tardio, pois os sintomas iniciais podem ser confundidos com outros problemas.
Causas
O principal fator de risco é a neuropatia periférica, mais comum no diabetes. Lesões não percebidas, repetidas microfraturas e traumas por sobrecarga contribuem para a destruição óssea.
Outros fatores incluem alcoolismo, hanseníase e doenças neurológicas.
Qual a diferença entre artrose e artropatia de Charcot?
A artrose é o desgaste da cartilagem das articulações, levando à dor e limitação de movimento.
Já a artropatia de Charcot envolve destruição óssea rápida, fraturas e perda da arquitetura do pé, muitas vezes sem dor intensa devido à neuropatia.
Quais os estágios?
A doença evolui em fases:
- Inflamatória: inchaço, vermelhidão e aumento de temperatura, sem alterações visíveis em exames de imagem.
- Fragmentação: fraturas evidentes, deformidade progressiva, sintomas inflamatórios marcantes.
- Coalescência: início da cicatrização, com redução do inchaço e consolidação óssea.
- Sequelar ou consolidação: deformidade estabelecida, menor inflamação, mas alto risco de úlceras e infecções.
Quais articulações mais acometidas?
Os locais mais atingidos são as articulações do mediopé (tarsometatarsais e naviculocuneiformes), tornozelo e articulações subtalares.
O tipo anatômico mais comum é o acometimento do mediopé, responsável por cerca de 60% dos casos.
Diagnóstico
A avaliação começa pela observação de pontos como inchaço, vermelhidão e o calor na região afetada, principalmente em pessoas com neuropatia. Esses detalhes servem de alerta para o médico durante o exame.
Depois, exames como radiografia, tomografia ou ressonância magnética entram em cena para confirmar o que se suspeita e mostrar o grau das lesões.
A ressonância costuma ser a melhor escolha para flagrar as alterações quando elas ainda estão no começo.
Tratamento: Tem cura?
O tratamento tem como objetivo prevenir a progressão da doença e proteger o pé. Inclui imobilização com bota ou gesso, retirada da carga, uso de calçados personalizados e órteses.
Em casos graves, pode ser indicada cirurgia para corrigir deformidades ou estabilizar o pé. O sucesso depende do diagnóstico precoce e do controle rigoroso do diabetes.
Como prevenir?
- Manter controle rigoroso da glicemia para evitar neuropatia.
- Inspecionar os pés diariamente, observando sinais de lesões ou deformidades.
- Usar calçados confortáveis, bem ajustados e, se necessário, palmilhas personalizadas.
- Evitar traumas e sobrecarga nos pés.
- Realizar consultas regulares com especialistas.
- Buscar informação sobre a doença e reconhecer sinais de alerta, como inchaço e vermelhidão persistentes.
Conclusão
O pé de Charcot continua sendo uma das condições mais desafiadoras que enfrento em minha prática clínica ortopédica.
O sucesso do tratamento começa com o diagnóstico precoce. Se identificarmos o problema a tempo, conseguimos evitar deformidades irreversíveis com terapias não cirúrgicas.
A melhor abordagem, no entanto, é sempre multidisciplinar. Com ortopedistas, endocrinologistas e uma equipe especializada trabalhando juntos, os resultados são muito melhores.
O objetivo final é priorizar sempre a preservação da função do membro e melhoria da qualidade de vida do paciente.
FAQs
O que é pé de Charcot?
Pé de Charcot é uma doença que destrói ossos e articulações do pé, provocando deformidades. Geralmente ocorre em pessoas com neuropatia, especialmente diabéticos.
Quais são os sintomas do pé de Charcot?
Os principais sintomas são inchaço, vermelhidão, aumento da temperatura local e, nas fases avançadas, deformidade do pé.
Como é feito o diagnóstico do pé de Charcot?
O diagnóstico é baseado em sinais clínicos e confirmado por exames de imagem, como radiografia e ressonância magnética.
Qual o tratamento para pé de Charcot?
O tratamento envolve imobilização, retirada de carga do pé, uso de órteses e calçados especiais. Em alguns casos, pode ser necessário cirurgia.
Pé de Charcot tem cura?
Não existe cura definitiva, mas com diagnóstico precoce e tratamento adequado é possível estabilizar a doença e evitar complicações graves.
Como prevenir o pé de Charcot?
Controle o diabetes, examine os pés diariamente, use calçados adequados e procure o especialista ao menor sinal de alteração.