A calcificação no tendão de Aquiles é um sinal de sobrecarga prolongada e degeneração do tecido.

Meus pacientes que recebem esse diagnóstico costumam sentir dor atrás do calcanhar, rigidez matinal e limitação para correr ou subir escadas.

Neste guia, você vai entender por que isso acontece, como confirmar o problema e quais tratamentos realmente ajudam, do conservador à cirurgia.

Calcificação no tendão de Aquiles: o que é e como acontece

O termo descreve depósitos de cálcio dentro do tendão ou na sua inserção no calcâneo.

Em muitos casos, a calcificação no tendão de Aquiles aparece como parte de uma tendinopatia crônica, quando o colágeno do tendão perde qualidade e o corpo tenta reparar o local, gerando espessamento e áreas calcificadas.

Também pode ocorrer na inserção do tendão, junto ao osso, com ou sem esporões. Esse cenário é comum em praticantes de corrida e saltos, em pessoas com pés muito pronados e em quem passou meses com dor sem tratamento estruturado.

Causas e fatores de risco

Entre as principais causas e fatores de risco, destaco:

  • Treino com aumento brusco de volume ou intensidade.
  • Biomecânica desfavorável, como pé pronado, encurtamento da panturrilha ou deformidade de Haglund.
  • Idade acima de 35 a 40 anos, com menor capacidade de reparo tecidual.
  • Obesidade e sedentarismo.
  • Doenças metabólicas, como diabetes, e uso de fluoroquinolonas.
  • Histórico de tendinite sem reabilitação adequada.

Sinais e sintomas que pedem atenção

Fique alerta aos seguintes sinais:

  • Dor na parte de trás do calcanhar ou 2 a 6 cm acima da inserção.
  • Rigidez ao levantar, com melhora leve após aquecer a musculatura.
  • Espessamento visível ou sensível do tendão.
  • Redução de força para impulsão e salto.
  • Estalos ou crepitação ao movimentar.

Dor intensa de início súbito, estalo e dificuldade para apoiar podem indicar ruptura. Nessa situação, a avaliação médica deve ser rápida.

Como confirmar o diagnóstico

Como ortopedista, avalio o histórico, examino a marcha e palpo o tendão.

Posso solicitar exames de imagem para confirmar o diagnóstico:

  • A radiografia identifica calcificações e esporões.
  • O ultrassom mostra a espessura e a qualidade das fibras.
  • A ressonância magnética ajuda a planejar o tratamento quando a calcificação no tendão de Aquiles é extensa ou há dúvida sobre ruptura parcial.

Exames de sangue podem ser solicitados se existir suspeita de distúrbios metabólicos que favoreçam depósitos de cálcio.

Tratamento: por onde começar

O plano combina redução de carga, controle de dor e reabilitação progressiva.

Em estágios iniciais, a calcificação no tendão de Aquiles pode responder bem ao tratamento conservador, desde que o programa seja consistente por ao menos 12 semanas.

  • Repouso relativo com ajuste de treinos e pausas programadas.
  • Gelo por 10 a 15 minutos, 2 a 3 vezes ao dia, nos picos de dor.
  • Calçados e palmilhas com leve elevação do calcanhar para reduzir a tração na inserção.
  • Órtese noturna para manter alongamento suave da panturrilha.
  • Medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios por curto período, quando indicados.
  • Fisioterapia para fortalecimento excêntrico e isométrico da panturrilha, somado à mobilidade de tornozelo e quadril.

Terapias avançadas: ondas de choque e PRP

A terapia por ondas de choque é um recurso não invasivo que estimula a reparação tecidual e reduz a dor.

Costuma ser aplicada em sessões semanais, com pausa temporária de esforços intensos após cada sessão.

Quando a cirurgia entra em cena

Indica-se cirurgia quando:

  • A dor persiste após meses de reabilitação bem conduzida.
  • A calcificação no tendão de Aquiles é volumosa e limita a função.
  • Há rupturas associadas.

    O tipo de procedimento depende do local e da extensão do comprometimento.

    Recuperação e retorno às atividades

    No tratamento conservador, a redução consistente da dor costuma surgir entre 6 e 12 semanas, com ganhos de força até 16 semanas.

    Após cirurgia, o uso de bota é comum nas primeiras semanas, seguido de fisioterapia estruturada.

    O retorno à corrida pode levar de 4 a 6 meses, variando com o tipo de procedimento e a resposta individual.

    Prevenção: proteja o seu tendão

    • Progrida treinos em passos pequenos por semana.
    • Fortaleça panturrilha, glúteos e core.
    • Monitore quilometragem e terrenos, evitando mudanças bruscas.
    • Hidrate e durma bem, o tendão responde melhor com rotina regular.

    FAQs

    Calcificação no tendão de Aquiles sempre precisa de cirurgia?

    Não. A maioria melhora com redução de carga, fisioterapia focada e terapias como ondas de choque. Cirurgia fica para casos refratários ou com grande comprometimento estrutural.

    Quanto tempo leva para melhorar a dor?

    Com tratamento conservador bem executado, muitas pessoas relatam melhora entre 6 e 12 semanas. A consolidação funcional pode levar alguns meses.

    Posso correr com calcificação no tendão de Aquiles?

    Depende do estágio. Em fases dolorosas, ajustes de carga e transição para atividades de baixo impacto são mais seguros. A volta à corrida deve ser graduada e monitorada.

    Ondas de choque ajudam na calcificação do tendão?

    Sim, é um recurso útil para reduzir dor e estimular a reparação. A indicação e o protocolo devem ser definidos pelo ortopedista e pelo fisioterapeuta.

    Corticoide pode ser aplicado no tendão de Aquiles?

    Aplicações no interior do tendão não são recomendadas por risco de ruptura. Abordagens ao redor do tendão exigem critério e acompanhamento.

    Quando devo procurar um especialista?

    Se a dor dura mais de duas semanas, há rigidez persistente pela manhã, perda de força ou suspeita de ruptura, marque avaliação com ortopedista de pé e tornozelo.

    Avatar

    Ortopedista especialista em Pé e Tornozelo, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009-2011). Especialização em Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Universidade Federal de Goiás. Estágio em Pé e Tornozelo – Massachussets General Hospital Harvad University (2017).