O joanete, também conhecido como hálux valgo, é uma das condições mais comuns que trato em meu consultório.

Ao longo da minha trajetória na área de ortopedia voltada para problemas do pé e tornozelo, tenho notado que muitos pacientes buscam ajuda apenas quando a deformidade já está avançada e causando dor significativa.

Como evitar joanete é uma questão de prevenção e cuidados diários que, quando bem aplicados, podem evitar o desenvolvimento desta condição ou impedir sua progressão.

Entendendo o Joanete (Hálux Valgo)

O hálux valgo, popularmente conhecido como joanete, é uma deformidade ortopédica que afeta a articulação do dedão do pé.

Caracteriza-se pelo desvio lateral do osso metatarso e pela formação de uma saliência óssea na base do dedão. Esta condição não surge da noite para o dia; é um processo gradual que pode ser influenciado por diversos fatores.

Em minha prática clínica, observo que esta condição atinge aproximadamente 30% da população, sendo significativamente mais comum em mulheres – com uma média de nove casos entre o público feminino para cada homem.

Esta disparidade de gênero está frequentemente associada ao uso de calçados inadequados, especialmente aqueles com salto alto e bico fino, que são preferidos por muitas mulheres.

O desenvolvimento do joanete ocorre devido à pressão da mecânica do pé ou da estrutura do pé, fazendo com que o dedão se dobre em direção ao segundo dedo.

Com o tempo, esta condição pode resultar em dor, inchaço e desconforto ao caminhar, além de dificultar o uso de calçados convencionais.

A Genética e Outros Fatores de Risco

É importante destacar que o joanete tem uma forte componente hereditária.

Em minhas consultas, frequentemente identifico padrões familiares – quando um paciente apresenta joanetes, geralmente outros membros da família também sofrem da mesma condição.

O formato e a estrutura do pé são características hereditárias, e pessoas com arco do pé baixo, pé chato ou articulações e tendões mais frouxos têm maior predisposição.

Outros fatores de risco incluem:

  • Doenças inflamatórias como artrite reumatoide e gota.
  • Problemas estruturais nos pés que afetam a distribuição do peso corporal.
  • Lesões prévias no pé que alteraram sua biomecânica.
  • Hipermobilidade articular, que tenho notado em vários dos meus pacientes jovens.

É essencial entender que, mesmo havendo predisposição genética, o desenvolvimento do joanete geralmente requer um fator desencadeante, como o uso continuado de calçados inadequados.

Como costumo explicar aos meus pacientes: “A genética carrega a arma, mas o ambiente puxa o gatilho.”

Como Evitar Joanete: Medidas Preventivas Eficazes

A prevenção do hálux valgo requer medidas cuidadosas para proteger e cuidar dos pés.

Com base na minha experiência clínica e nas evidências científicas atuais, recomendo as seguintes estratégias preventivas:

Escolha Adequada de Calçados

Esta é, sem dúvida, a medida preventiva mais importante:

  • Optar por sapatos que proporcionem um bom suporte ao arco do pé.
  • Escolher calçados com espaço suficiente na área dos dedos, evitando bicos estreitos e pontiagudos.
  • Preferir calçados com base ampla e confortável, que distribuem o peso do corpo de forma mais uniforme.
  • Limitar o uso de saltos altos a no máximo 8 centímetros e por períodos mais curtos.
  • Alternar entre diferentes tipos de calçados ao longo da semana.

Tenho observado resultados significativamente melhores em pacientes que adotam estas recomendações, especialmente aqueles com histórico familiar de joanetes.

Exercícios e Cuidados Diários

Além da escolha adequada de calçados, recomendo aos meus pacientes:

  • Realizar exercícios específicos para fortalecer a musculatura do pé.
  • Massagear os pés regularmente para melhorar a circulação.
  • Descansar os pés após longos períodos em pé ou caminhando.
  • Manter um peso corporal saudável para reduzir a pressão sobre os pés.
  • Usar compressas frias e quentes para aliviar desconfortos iniciais.

Em minha prática, tenho testemunhado como estas medidas simples podem fazer uma grande diferença na prevenção dos joanetes ou na redução da progressão em casos iniciais.

Órteses e Suportes Preventivos

Para pacientes com predisposição genética ou sinais iniciais de desalinhamento, geralmente é recomendado:

  • Órteses personalizadas para corrigir problemas estruturais do pé.
  • Espaçadores de silicone (idealmente sob medida) para manter o alinhamento do dedão.
  • Palmilhas em 3D sob medida para distribuir melhor a pressão.
  • Protetores específicos para a área do joanete durante atividades de maior impacto.

Estudos recentes da American Orthopaedic Foot & Ankle Society têm demonstrado que o uso precoce destes dispositivos pode retardar significativamente a progressão do hálux valgo em pacientes predispostos.

Tratamentos Conservadores para Joanetes Existentes

Quando o joanete já está presente, mas ainda em estágio inicial, recomendo aos meus pacientes abordagens não cirúrgicas, como:

  • Podologia regular para cuidado profissional dos pés.
  • Fisioterapia específica para melhorar o alinhamento e a função.
  • Técnicas de massagem terapêutica para reduzir a dor e melhorar a mobilidade.
  • Adaptação de calçados existentes, que podem ser esticados profissionalmente nas áreas de pressão.
  • Uso de almofadas protetoras para amortecer a área dolorida.

Tenho observado que muitos de meus pacientes conseguem conviver bem com joanetes iniciais seguindo estas recomendações, evitando a necessidade de intervenção cirúrgica.

Inovações no Tratamento Cirúrgico: A Abordagem Minimamente Invasiva

Quando os métodos conservadores não são suficientes, a cirurgia pode ser necessária.

Em minha prática, tenho adotado uma técnica moderna e minimamente invasiva para corrigir o joanete, a técnica percutânea, que oferece vantagens significativas em relação aos métodos tradicionais.

É uma abordagem que permite corrigir o joanete através de pequenas incisões (2-3mm), sem a necessidade de grandes cortes como na cirurgia tradicional.

Durante o procedimento, utilizo instrumentos especiais para realizar os cortes ósseos (osteotomias) e realinhar o dedo, guiados por fluoroscopia (raio-x em tempo real).

Entre as vantagens que observo em meus pacientes, destaco:

  • Menor dor pós-operatória.
  • Cicatrizes mínimas, quase invisíveis.
  • Menor inchaço e agressão aos tecidos.
  • Retorno mais rápido às atividades diárias.
  • Possibilidade de operar os dois pés simultaneamente em casos selecionados.

O procedimento é realizado sob anestesia local e sedação ou raquianestesia, geralmente durando cerca de 30-40 minutos por pé, com alta hospitalar no mesmo dia.

Conclusão

Como especialista que lida diariamente com problemas nos pés, posso afirmar que a prevenção é sempre o melhor caminho.

Embora o joanete tenha um componente genético importante, as escolhas diárias – especialmente relacionadas ao calçado – podem fazer toda a diferença entre desenvolver a condição ou manter seus pés saudáveis.

Recomendo fortemente a adoção das medidas preventivas discutidas neste artigo, bem como consultas regulares com um especialista em pé e tornozelo, especialmente se houver histórico familiar de joanetes.

Identificar e tratar os primeiros sinais do problema é muito mais simples do que corrigir deformidades avançadas.

Na minha experiência clínica, tenho visto pacientes que, ao seguirem essas orientações preventivas, conseguiram evitar a progressão de joanetes incipientes e mantiveram uma boa qualidade de vida, sem dor ou limitações funcionais significativas.

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Ortopedista especialista em Pé e Tornozelo, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009-2011). Especialização em Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Universidade Federal de Goiás. Estágio em Pé e Tornozelo – Massachussets General Hospital Harvad University (2017).