O joanete, conhecido clinicamente como hálux valgo, é uma deformidade progressiva que afeta a articulação do primeiro metatarsofalângico, causando o desvio lateral do dedão e o desvio medial do primeiro metatarso.
Muitos pacientes que atendo no consultório estão em busca de como tirar joanete, não apenas pelo impacto físico, mas também em razão das consequências na qualidade de vida, como dor, dificuldade para calçar e limitações funcionais.
Um estudo da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé revelou que aproximadamente 30% da população brasileira apresenta joanete.
Esta condição é significativamente mais comum em mulheres, principalmente devido ao uso frequente de calçados inadequados, como sapatos de bico fino e salto alto, que agravam a deformidade, inclusive, cerca de 70% dos casos de joanete que atendo são em pacientes do sexo feminino.
Reuni neste conteúdo as principais informações sobre tratamentos conservadores e cirúrgicos para remover joanetes!
Diagnóstico e fatores de risco
O diagnóstico correto do joanete requer uma avaliação cuidadosa.
Como especialista, sempre inicio com uma avaliação clínica detalhada, complementada por exames de imagem, principalmente radiografias, para determinar o grau da deformidade e planejar o tratamento adequado.
A etiologia do joanete é multifatorial, incluindo fatores como:
- Flexibilidade excessiva dos ligamentos.
- Alterações da estrutura óssea.
- Pés planos.
- Doenças osteoarticulares como artrite reumatoide e gota.
- Influência genética.
- Uso de calçados inadequados.
Em minha prática diária, explico aos meus pacientes que o fator hereditário é significativo, mas o uso inadequado de calçados com frequência acelera e agrava o desenvolvimento da deformidade.
Abordagens conservadoras no tratamento
Antes de considerar a cirurgia, sempre recomendo aos meus pacientes tentarem tratamentos conservadores:
- Uso de calçados mais largos e confortáveis, que acomodem a deformidade sem pressionar a área afetada.
- Utilização de coxins protetores para joanete (também conhecidos como “protetores de joanete”).
- Órteses ou espaçadores do hálux, que ajudam a alinhar o dedão.
- Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) para controle da dor.
Para casos com bursite associada, a aspiração bursal e injeção de corticosteroides pode proporcionar alívio da dor.
Um estudo recente com dançarinas adolescentes demonstrou que exercícios específicos de fisioterapia podem reduzir significativamente o ângulo do hálux valgo e melhorar a função dos pés, uma abordagem que tenho incorporado no tratamento de pacientes mais jovens.
Como tirar joanete: quando considerar a cirurgia
Na minha experiência, a decisão de operar um joanete deve ser criteriosa e personalizada. Recomendo a intervenção cirúrgica quando:
- O paciente apresenta dor significativa que limita atividades cotidianas.
- Há dificuldade persistente em usar calçados, mesmo os mais confortáveis.
- As medidas conservadoras não proporcionam alívio adequado.
- Existe deformidade progressiva com potencial para complicações.
É importante esclarecer que a cirurgia de joanete não deve ser realizada por razões puramente estéticas. Como sempre explico aos meus pacientes, o objetivo primário é aliviar a dor e restaurar a função do pé.
Técnicas cirúrgicas modernas para correção de joanetes
A evolução das técnicas cirúrgicas para correção de joanetes tem sido notável nos últimos anos.
Em minha prática, tenho adotado cada vez mais as técnicas minimamente invasivas, que proporcionam excelentes resultados com menor tempo de recuperação.
Cirurgia Percutânea ou Minimamente Invasiva
A cirurgia de joanetes minimamente invasiva (percutânea) é uma técnica inovadora que permite fazer grandes correções de deformidades através de pequenas incisões chamadas portais.
Esta abordagem utiliza quatro ou cinco pontos espaçados para realizar as osteotomias (cortes ósseos), utilizando material especial chamado fresa percutânea.
A técnica MICA (Minimally Invasive Chevron and Akin), desenvolvida por grupos europeus, representa um significativo avanço neste campo.
Como explico aos meus pacientes, esta técnica proporciona uma osteotomia mais estável, utilizando parafusos para fixação, o que resulta em melhores resultados.
Entre as principais vantagens que observo nos meus pacientes submetidos à cirurgia percutânea estão:
- Resultado estético superior devido às pequenas incisões (2-3mm).
- Recuperação acelerada com alta no mesmo dia.
- Pós-operatório menos doloroso.
- Menor inchaço e agressão aos tecidos.
- Retorno mais rápido às atividades diárias.
Em comparação com as técnicas tradicionais, estudos internacionais demonstram significativamente menos dor com a técnica MICA do que com técnicas tradicionais como a Scarf Akin.
Histórico e evolução da técnica
A técnica MICA foi desenvolvida em 2008 por uma colaboração entre o cirurgião ortopédico britânico David Redfern e o cirurgião francês Joel Vernois.
Desde então, mais de 50.000 operações com esta técnica foram realizadas em todo o mundo, e tenho incorporado estas inovações em minha prática desde que foram introduzidas no Brasil.
Recuperação pós-operatória e cuidados
Com base na minha experiência clínica, o pós-operatório da cirurgia minimamente invasiva de joanete é consideravelmente mais confortável que o das técnicas tradicionais.
Normalmente, meus pacientes recebem alta no mesmo dia da cirurgia e já podem sair andando do hospital, utilizando uma sandália pós-operatória específica.
O protocolo de recuperação que indico inclui:
- Uso de curativo especial e sandália pós-cirúrgica.
- Apoio precoce do pé no chão, seguindo orientações específicas.
- Fisioterapia para otimizar a recuperação.
- Retorno gradual ao uso de calçados normais e atividades físicas.
Estudos mostram que pacientes submetidos à cirurgia minimamente invasiva têm recuperação em média oito semanas mais rápida do que aqueles que passam por procedimentos abertos tradicionais, conforme publicado no jornal Foot & Ankle International.
Desmistificando receios comuns
Um aspecto importante do meu trabalho como cirurgião especializado é desmistificar alguns receios comuns sobre a cirurgia de joanete. Entre os mitos mais frequentes que esclareço para meus pacientes estão:
- “O joanete volta depois da cirurgia” – Com as técnicas modernas de correção, os índices de recidiva são extremamente baixos, diferentemente do que ocorria com técnicas mais antigas.
- “A cirurgia dói muito” – As técnicas anestésicas avançaram significativamente, permitindo um controle muito eficaz da dor durante e após o procedimento.
- “A cirurgia deixa cicatrizes grandes” – As técnicas minimamente invasivas permitem realizar grandes correções ósseas com pequenas incisões na pele, resultando em cicatrizes quase imperceptíveis.
- “O pós-operatório é muito difícil” – Com as novas técnicas, o paciente geralmente retorna às atividades básicas rapidamente, com um pós-operatório muito mais confortável.
Conclusão
Ao longo de minha trajetória como especialista em cirurgia do pé e tornozelo, tenho observado uma evolução significativa nas técnicas para tratar o joanete.
As abordagens minimamente invasivas representam um marco importante nesta evolução, oferecendo resultados excelentes com menor trauma cirúrgico.
É fundamental ressaltar que cada caso é único e requer avaliação individualizada para determinar a melhor abordagem terapêutica.
Embora nem todos os pacientes sejam candidatos à cirurgia minimamente invasiva, aqueles que preenchem os critérios geralmente obtêm resultados superiores com esta técnica.
O sucesso do tratamento, seja conservador ou cirúrgico, depende da correta indicação, da técnica adequada e do acompanhamento pós-operatório cuidadoso.
Como sempre digo aos meus pacientes: cuide dos seus pés, pois são eles que o levarão cada vez mais longe!