Diariamente em meu consultório, recebo pacientes com queixas relacionadas a joanetes, uma condição que afeta aproximadamente 43% dos brasileiros, sendo mais comum em mulheres.
A questão sobre o que causa joanete surge constantemente, principalmente de pacientes preocupados com o desconforto e a deformidade visível no pé.
Em minha experiência como ortopedista especializado em cirurgias minimamente invasivas, observo que a etiologia dessa condição é multifatorial e merece uma análise cuidadosa para direcionar o tratamento adequado.
Com o objetivo de esclarecer todas as questões relacionadas às causas do surgimento de joanete, reuni neste artigo tudo que você precisa saber!
O que é o joanete e sua manifestação clínica
O joanete, tecnicamente denominado hallux valgus, caracteriza-se por um desvio lateral da articulação entre o dedão e o pé, resultando em uma protuberância óssea na região medial do primeiro metatarso.
Esta deformidade progressiva ocorre quando o dedão “aponta” em direção aos outros dedos, forçando o osso para fora.
Em minha prática clínica, percebo que os pacientes geralmente apresentam sintomas como dor localizada, vermelhidão e inchaço na articulação afetada.
Com o avanço da condição, observo que a pele sobre a protuberância se torna mais espessa, podendo desenvolver calosidades dolorosas.
Muitos de meus pacientes relatam dificuldade para encontrar calçados que não provoquem desconforto ou agravem os sintomas.
O que causa joanete: fatores multifatoriais
Ao longo de minha trajetória profissional, tenho constatado que o desenvolvimento do joanete raramente se deve a um único fator.
O Framingham Foot Study, importante pesquisa americana que analisou dados de 1.370 adultos, demonstrou forte correlação entre a presença de joanetes e o histórico familiar, indicando predisposição genética para essa deformidade.
Esta descoberta científica complementa o que observo em minha rotina de atendimentos: uma combinação de fatores predisponentes que, juntos, contribuem para o aparecimento e progressão do joanete.
Entre os principais fatores causais, destacam-se:
Predisposição genética e hereditariedade
Em meu consultório, constato frequentemente que mais da metade dos pacientes com joanetes possuem familiares com o mesmo problema.
Os estudos científicos corroboram essa observação clínica – o próprio Framingham Foot Study identificou uma tendência clara da deformidade estar ligada ao histórico familiar.
Algumas pessoas podem nascer com características anatômicas que favorecem o desenvolvimento de joanetes, como ligamentos e tendões mais frágeis ou alterações na estrutura óssea do pé.
Em muitos casos, observo que essas predisposições genéticas se manifestam independentemente do tipo de calçado utilizado.
Calçados inadequados
Embora os estudos recentes tenham enfatizado o papel da genética, não podemos subestimar o impacto dos calçados inadequados no desenvolvimento e agravamento dos joanetes.
Sapatos de salto alto, bico fino ou muito apertados exercem pressão contínua sobre os dedos, facilitando o desalinhamento progressivo do dedão.
Em minha experiência clínica, observo que os sapatos de salto alto são particularmente problemáticos porque projetam o pé para frente, prejudicando a distribuição do peso corporal e concentrando pressão excessiva na região anterior do pé.
O bico fino, por sua vez, comprime os dedos lateralmente, forçando o dedão em direção aos outros dedos.
Condições médicas associadas
Certas condições médicas podem contribuir significativamente para o desenvolvimento de joanetes. Entre elas, destaco:
- Doenças reumáticas: artrite reumatoide, gota e lúpus podem afetar as articulações e acelerar deformidades ósseas.
- Condições neurológicas: sequelas de AVC, paralisia cerebral e traumas da medula espinhal frequentemente alteram a biomecânica da marcha.
- Alterações estruturais: pé chato, dedão mais longo que o segundo dedo e hipermobilidade articular são fatores predisponentes que identifico regularmente em meus pacientes.
Anatomia e biomecânica do pé
A estrutura anatômica individual do pé é determinante para o risco de desenvolvimento de joanetes.
Com base em minha prática clínica com técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, frequentemente identifico padrões anatômicos que predispõem ao problema, como a forma da cabeça do primeiro metatarso ou o tipo de arco plantar.
Pessoas com pés planos (chatos) apresentam maior susceptibilidade ao desenvolvimento de joanetes porque essa condição altera a distribuição do peso corporal durante a marcha, exercendo maior pressão sobre a região interna do pé.
Diagnóstico e abordagem clínica
O diagnóstico do joanete inicia-se com uma avaliação clínica completa, incluindo histórico médico detalhado e exame físico minucioso.
Para casos que necessitam de avaliação mais precisa, solicito radiografias do pé para observar os ângulos entre os ossos e determinar o grau da deformidade.
Durante a avaliação, presto atenção especial à mobilidade da articulação metatarsofalângica, à presença de dor à palpação e às alterações na pele sobre a proeminência óssea.
A análise da marcha do paciente também fornece informações valiosas sobre possíveis compensações que podem agravar o problema.
Opções de tratamento
O tratamento do joanete deve ser individualizado, considerando o grau da deformidade, intensidade dos sintomas e estilo de vida do paciente.
Geralmente, inicia-se com abordagens conservadoras, que incluem:
- Orientação sobre calçados adequados, priorizando modelos confortáveis, espaçosos e com suporte adequado para o arco.
- Uso de protetores e espaçadores para os dedos, que ajudam a aliviar a pressão sobre a área afetada.
- Palmilhas ortopédicas personalizadas, que redistribuem o peso corporal e melhoram a biomecânica do pé.
Quando o tratamento conservador não proporciona alívio adequado dos sintomas, considero a intervenção cirúrgica.
Como especialista em cirurgias minimamente invasivas, tenho obtido excelentes resultados com procedimentos que corrigem o alinhamento ósseo através de pequenas incisões, reduzindo significativamente o tempo de recuperação e as complicações pós-operatórias.
Para proporcionar o melhor tratamento aos meus pacientes, busco constantemente atualizações na área, participando inclusive de congressos internacionais.
Conclusão
O joanete é uma condição complexa que resulta da interação de múltiplos fatores.
Em minha experiência, observo que o conhecimento adequado sobre o que causa joanete é fundamental para definir estratégias de prevenção e tratamento eficazes.
Embora não possamos modificar nossa predisposição genética, podemos adotar medidas preventivas, como o uso de calçados adequados e o tratamento precoce de alterações biomecânicas do pé.
Para meus pacientes com histórico familiar de joanetes, recomendo vigilância constante e cuidados específicos desde cedo.
A ciência continua avançando na compreensão dessa condição, como demonstra o recente estudo da Unicamp sobre palmilhas terapêuticas para pacientes com joanete doloroso.
Como médico dedicado à saúde dos pés, mantenho-me atualizado com as pesquisas mais recentes para oferecer as melhores opções de tratamento aos meus pacientes.