O pé torto congênito é uma deformidade que altera tendões, músculos e ossos ainda na gestação. Quando reconhecido cedo, o cuidado liberta a criança para correr, brincar e viver sem limitações.

Em minha prática clínica como ortopedista especialista em pé e tornozelo, observo que esta condição gera grande preocupação nos pais, mas com o tratamento adequado, os resultados são extremamente satisfatórios.

Neste guia, você encontra causas prováveis, sinais clínicos, diagnóstico e o método de correção mais usado em todo o mundo.

Pé torto congênito: panorama rápido

A condição afeta aproximadamente um a cada mil recém-nascidos, com envolvimento bilateral em metade dos casos, e os meninos apresentam incidência maior.

O pé aponta para baixo, a frente vira para dentro e a panturrilha costuma ser mais fina, mas ressaltando que a dor não faz parte do quadro nessa fase inicial.

Causas e fatores associados

  • Predisposição genética observada em familiares próximos;
  • Alterações musculoesqueléticas durante o desenvolvimento embrionário;
  • Possível influência de fatores ambientais intra-uterinos;
  • Associação eventual com síndromes ou doenças neuromusculares.

A etiologia permanece em estudo, porém, consensos atuais mostram que hábitos maternos não geram a deformidade, logo, não há culpa a ser atribuída aos pais.

Principais sinais clínicos

  • Pé menor que o contralateral ou que a média esperada.
  • Ponta virada para dentro e para cima.
  • Panturrilha fina e pouco desenvolvida.
  • Rigidez articular impedindo movimentação livre.

Quando essas características surgem sem rigidez, considera-se pé torto posicional, quadro que se ajusta espontaneamente.

Como confirmar o diagnóstico

O ultrassom morfológico a partir da vigésima semana pode sugerir a alteração. A confirmação ocorre no berçário, durante exame físico feito por ortopedista pediátrico.

Radiografias raramente são necessárias.

Método Ponseti passo a passo

Criado pelo ortopedista Ignacio Ponseti, o protocolo corrige mais de 95% dos casos.

  • Manipulação e gesso semanal (3 – 6 trocas) conduzindo o pé gradualmente à posição natural.
  • Tenotomia do tendão de Aquiles realizada sob anestesia local quando o equino persiste.
  • Gesso de imobilização por três semanas após a tenotomia, consolidando a correção.

Esse ciclo deve começar nas primeiras semanas de vida para aproveitar a maleabilidade dos tecidos neonatais.

Órtese de abdução e manutenção

Ao retirar o último gesso, a criança recebe uma órtese de abdução (sapatos ligados por barra) que mantém o alinhamento.

  • Primeiros 3 meses: uso por 23 horas diárias, retirando apenas para higiene.
  • Dos 4 meses até 4 anos: uso noturno e durante sonecas (14 horas diárias).

A adesão correta impede recidivas. Visitas regulares ao especialista, no início semanais e depois trimestrais, garantem ajustes finos da órtese e monitoram o crescimento.

Vida ativa depois do tratamento

Crianças tratadas com sucesso praticam esportes, calçam tênis comuns e não sofrem dor crônica.

Eventuais cirurgias complementares, como transferência de tendão, são reservadas para casos que apresentam desequilíbrio muscular a partir dos três anos.

Conclusão

O pé torto congênito, embora represente uma malformação complexa, tem excelente prognóstico quando tratado adequadamente pelo método Ponseti.

Em minha prática clínica, observo consistentemente que o diagnóstico precoce, o tratamento especializado e a adesão rigorosa ao protocolo terapêutico resultam em pés funcionais e indolores.

A educação dos pais sobre a importância do uso correto da órtese de abdução é fundamental para o sucesso a longo prazo.

Como ortopedista especializado em pé e tornozelo, posso afirmar que esta condição, que outrora gerava limitações significativas, hoje permite que os pacientes tenham uma vida completamente normal e ativa.

FAQs

O pé torto congênito volta a entortar?

A chance de recidiva diminui muito quando a órtese de abdução é usada pelo tempo recomendado. Falhas no uso representam o principal motivo de retorno da deformidade.

Quando a criança começa a andar?

O início da marcha segue o cronograma normal do desenvolvimento infantil (entre 12 e 15 meses) desde que o tratamento tenha sido aplicado corretamente.

O método Ponseti causa dor?

As manipulações são suaves e a tenotomia utiliza anestesia local, portanto o desconforto é mínimo. Analgesia simples é suficiente nos primeiros dias após cada etapa.

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Ortopedista especialista em Pé e Tornozelo, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009-2011). Especialização em Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Universidade Federal de Goiás. Estágio em Pé e Tornozelo – Massachussets General Hospital Harvad University (2017).