O neuroma de Morton é uma condição que atendo com frequência em meu consultório, caracterizada por uma dor intensa na região entre os dedos do pé, geralmente entre o terceiro e o quarto metatarsos.

Quando os tratamentos conservadores, como palmilhas, fisioterapia e infiltrações, não trazem alívio, a cirurgia torna-se uma opção.

No entanto, como cirurgião ortopedista especialista, considero fundamental que meus pacientes estejam plenamente informados sobre os riscos da cirurgia de neuroma de Morton.

Acredito que a comunicação transparente entre médico e paciente é uma prioridade. Por isso, irei compartilhar neste artigo os possíveis riscos desse procedimento.

Entendendo o neuroma de Morton e quando a cirurgia é indicada

O neuroma de Morton é um espessamento do nervo interdigital, causado por compressão crônica, levando a sintomas como dor, queimação e sensação de choque nos dedos.

Com base em minha experiência, a maioria dos pacientes responde bem ao tratamento conservador, mas cerca de 20% acabam necessitando de intervenção cirúrgica, principalmente quando a dor limita as atividades diárias e compromete a qualidade de vida.

A cirurgia consiste na remoção do neuroma, podendo ser realizada por via dorsal (por cima do pé) ou plantar (por baixo).

O objetivo é eliminar a fonte da dor, mas, como em qualquer procedimento cirúrgico, existem riscos que precisam ser considerados.

Principais riscos da cirurgia de neuroma de Morton

Com base em minha prática clínica e na literatura médica nacional e internacional, os principais riscos da cirurgia de neuroma de Morton são:

Infecção

A infecção no local da incisão é um risco presente em qualquer cirurgia. Embora seja rara, pode ocorrer e exigir tratamento com antibióticos.

Em casos mais graves, pode ser necessário reintervir cirurgicamente para controlar a infecção.

Cicatrização inadequada

Alguns pacientes podem apresentar cicatrização anormal, com formação de queloides ou cicatrizes hipertróficas, que pode causar desconforto estético e, em casos raros, dor persistente na região operada.

Dormência e alteração da sensibilidade

A manipulação do nervo durante a cirurgia pode resultar em áreas de dormência permanente nos dedos afetados.

Esse é um efeito esperado e, muitas vezes, inevitável, mas que costuma ser bem tolerado pela maioria dos pacientes, já que a dor incapacitante é eliminada.

Dor persistente ou recorrente

Apesar da remoção do neuroma, cerca de 10% dos pacientes podem continuar sentindo dor após a cirurgia, que pode ocorrer devido à formação de um neuroma residual, cicatrização inadequada ou compressão de outros nervos adjacentes.

Em alguns casos, pode ser necessária uma nova intervenção.

Recorrência do neuroma

A recidiva do neuroma é um risco, especialmente se a remoção não for completa.

Estudos mostram que a taxa de recorrência pode variar de 5% a 15%, dependendo da técnica cirúrgica e da experiência do cirurgião.

Alterações na marcha e rigidez articular

Após a cirurgia, alguns pacientes relatam alterações na forma de caminhar ou rigidez nas articulações próximas, que geralmente é temporário e melhora com fisioterapia, mas pode persistir em casos raros.

O que dizem os estudos e a experiência internacional

Pesquisas realizadas no Brasil e em outros países apontam que a cirurgia de neuroma de Morton apresenta altos índices de satisfação, com melhora significativa da dor em até 85% dos casos.

Um estudo brasileiro publicado na Revista Brasileira de Ortopedia mostrou que 82% dos pacientes operados relataram alívio completo dos sintomas após um ano de acompanhamento. J

á estudos internacionais, como o publicado no Journal of Foot and Ankle Surgery, apontam taxas de sucesso semelhantes, mas reforçam a importância de uma seleção criteriosa dos pacientes e da técnica cirúrgica adequada para minimizar complicações.

Em minha experiência, a escolha da via de acesso (dorsal ou plantar) e o cuidado no manuseio dos tecidos são fatores determinantes para reduzir riscos e otimizar os resultados.

Sempre oriento meus pacientes sobre a importância do repouso, uso de calçados adequados e acompanhamento pós-operatório para evitar complicações.

Como minimizar os riscos

A melhor forma de minimizar os riscos da cirurgia de neuroma de Morton é uma avaliação criteriosa e individualizada.

Sempre busco esgotar as opções conservadoras antes de indicar a cirurgia. Quando o procedimento é necessário, explico detalhadamente todos os riscos e benefícios, além de orientar sobre os cuidados no pós-operatório.

A escolha de um cirurgião experiente, a realização do procedimento em ambiente adequado e o seguimento rigoroso das orientações médicas são fundamentais para o sucesso da cirurgia e para a redução das complicações.

Conclusão

A cirurgia de neuroma de Morton é, em geral, segura e eficaz, mas não está isenta de riscos.

Infecção, cicatrização inadequada, dormência, dor persistente e recidiva do neuroma são complicações possíveis, embora pouco frequentes quando o procedimento é realizado por um especialista.

Em minha prática, a transparência na comunicação e o acompanhamento próximo dos meus pacientes são essenciais para garantir os melhores resultados e minimizar os riscos da cirurgia.

Se você apresenta sintomas compatíveis com neuroma de Morton ou já foi indicado para cirurgia, agende uma consulta.

Juntos, podemos avaliar a melhor abordagem para o seu caso, sempre priorizando sua segurança e qualidade de vida.

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Ortopedista especialista em Pé e Tornozelo, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009-2011). Especialização em Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Universidade Federal de Goiás. Estágio em Pé e Tornozelo – Massachussets General Hospital Harvad University (2017).