A Síndrome de Müller-Weiss é rara, mas quando surge provoca dor persistente no mediopé e compromete o dia a dia.

Como muitos dos meus pacientes não entendem muito bem essa condição, neste artigo, abordarei as causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento.

Por que surge a Síndrome de Müller-Weiss?

A síndrome de Müller-Weiss resulta de uma combinação complexa de fatores que afetam o osso navicular – estrutura fundamental para a manutenção do arco longitudinal medial do pé.

O navicular, com sua característica forma de barco, articula-se com cinco ossos tarsais e suporta a maior parte da carga aplicada durante a sustentação do peso corporal.

Quando a circulação local falha ou traumas repetidos ocorrem, partes desse osso perdem vitalidade, gerando colapso e dor.

Estudos apontam influência de fatores genéticos, vascularização reduzida, alterações hormonais e prática de esportes com pivôs bruscos.

Fatores de risco que merecem atenção

  • Sexo feminino entre 40 e 60 anos;
  • Histórico de entorses ou fraturas no mediopé;
  • Pés cavos ou desalinhamento do retropé;
  • Trabalho que exige longos períodos em pé;
  • Doenças que afetam a microcirculação óssea.

Principais sintomas

Os principais sintomas são:

  • Dor na face dorsomedial do pé, que piora com caminhadas longas e alivia com descanso.
  • Edema localizado.
  • Rigidez matinal.
  • Perda de mobilidade subtalar.

Quem apresenta sensibilidade ao toque no navicular precisa de avaliação detalhada.

Classificação e estadiamento

A classificação de Maceira divide a síndrome de Müller-Weiss em cinco estágios distintos, fundamentais para definir a abordagem terapêutica mais adequada:

  1. Estágio I – Alterações iniciais com compressão lateral do navicular.
  2. Estágio II – Fragmentação e início do colapso ósseo.
  3. Estágio III – Colapso significativo com deformidade em vírgula.
  4. Estágio IV – Desenvolvimento do pé plano paradoxal varo.
  5. Estágio V – Extrusão completa do navicular.

Exames para um diagnóstico preciso

O diagnóstico preciso baseia-se principalmente em radiografias, complementadas por tomografia computadorizada e ressonância magnética

Radiografias em carga mostram achatamento e lateralização do navicular. A tomografia avalia fragmentação, enquanto a ressonância magnética detecta áreas de osteonecrose e edema ósseo precoce.

Esses achados guiam a escolha do tratamento.

Opções de tratamento

O objetivo do tratamento é aliviar dor e manter a função. O plano começa conservador, avança passo a passo conforme a resposta clínica do paciente:

  • Imobilização curta com bota para reduzir carga e permitir reparo tecidual.
  • Órteses personalizadas que distribuem pressão e estabilizam o mediopé.
  • Fisioterapia focada em propriocepção, alongamento da cadeia posterior e fortalecimento intrínseco.
  • Medicamentos analgésicos ou anti-inflamatórios para controlar a dor nas fases agudas.
  • Técnicas minimamente invasivas de descompressão percutânea ou enxerto ósseo, indicadas quando a imagem mostra colapso inicial.
  • Artrodese talonavicular-cuneiforme nos estágios avançados, devolvendo alinhamento e eliminando o foco doloroso.

Recuperação e qualidade de vida

Após o tratamento, a reabilitação progressiva devolve confiança na marcha. Caminhadas controladas, treino de equilíbrio e calçados adequados evitam sobrecarga.

Muitos pacientes retornam a esportes recreativos quando seguem o protocolo completo.

Conclusão

A síndrome de Müller-Weiss permanece um desafio terapêutico que requer diagnóstico precoce e manejo especializado.

A combinação de técnicas minimamente invasivas com protocolos de reabilitação personalizados apresenta resultados funcionais muito favoráveis.

O sucesso depende da avaliação individual de cada caso e da adoção de estratégias que considerem tanto os aspectos biomecânicos quanto as metas funcionais do paciente.

FAQs

Qual a diferença entre Síndrome de Müller-Weiss e doença de Köhler?

A primeira afeta adultos, envolve colapso crônico do navicular, enquanto a doença de Köhler ocorre na infância e costuma regredir com medidas conservadoras.

É possível correr depois do tratamento?

Sim. Com imobilização adequada, fortalecimento e ajuste de calçado, muitos pacientes voltam a atividades de impacto leve sem dor.

Excesso de peso agrava a Síndrome de Müller-Weiss?

O peso corporal aumenta a pressão sobre o navicular. Manter índice de massa saudável reduz progressão e dor.

Quando a cirurgia se torna necessária?

Indica-se intervenção quando há colapso avançado, dor persistente ou falha no manejo conservador após alguns meses.

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Ortopedista especialista em Pé e Tornozelo, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009-2011). Especialização em Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Universidade Federal de Goiás. Estágio em Pé e Tornozelo – Massachussets General Hospital Harvad University (2017).