Sentir o tornozelo estalando ao andar ou subir escadas é comum. Em muitos casos, o som vem de bolhas de gás nas articulações.

Agora, quando há dor, fraqueza, instabilidade ou estalos repetitivos, vale investigar para descartar tendinopatia, subluxação dos tendões peroneais ou desgaste articular.

Como muitos dos meus pacientes se queixam de estalos no tornozelo, vou explicar em detalhes as possíveis causas e como tratar.

Causas comuns do tornozelo estalando

Nem todo clique indica lesão. O contexto e os sintomas associados guiam o diagnóstico. As causas mais vistas são:

  • Liberação de gás no líquido articular, estalo curto, sem dor.
  • Atrito de tendões e ligamentos após esforço ou imobilidade prolongada.
  • Tendinopatia dos peroneais, com dor na parte externa do tornozelo.
  • Subluxação peroneal, os tendões “passeiam” sobre a fíbula e estalam.
  • Sinovite, inflamação da membrana da articulação com inchaço.
  • Corpos livres após entorse antiga ou impacto.
  • Osteoartrite do tornozelo, desgaste da cartilagem com rigidez matinal.
  • Hipermobilidade, ligamentos mais frouxos facilitam o estalo.

Estalos no tornozelo: quando investigar

Alguns sinais merecem uma avaliação especializada:

  • Dor persistente ou que piora nas últimas semanas.
  • Inchaço, calor local, vermelhidão ou perda de força.
  • Sensação de falseio, pé virando para fora com facilidade.
  • Estalos frequentes durante a caminhada ou corrida.
  • Dificuldade para apoiar peso ou limitar atividades do dia a dia.

Como é feito o diagnóstico

A avaliação clínica costuma identificar a origem do estalo. Testes de eversão e dorsiflexão podem reproduzir o clique.

Quando há suspeita de lesão de tendão, corpo livre ou sinovite, exames de imagem ajudam a definir a conduta.

Exames que podem ser solicitados

  • Ultrassom musculoesquelético, primeiro exame em casos dinâmicos.
  • Ressonância magnética, detalha cartilagem, ligamentos e lesões associadas.
  • Radiografia, pesquisa corpos livres e desalinhamentos ósseos.

Tratamento

A escolha depende da causa e dos sintomas. Em quadros sem dor, apenas orientação e exercícios já resolvem. Quando há lesão, o plano é estruturado em etapas.

  1. Controle de dor e inflamação com gelo, compressão elástica, elevação, analgésicos quando indicados.
  2. Fisioterapia, foco em estabilidade, fortalecimento dos peroneais, tríceps sural e glúteos, além de mobilidade de tornozelo.
  3. Treino proprioceptivo, equilíbrio em superfícies instáveis para reduzir falseios.
  4. Órteses e palmilhas, apoio lateral e correção de sobrecargas.
  5. Onda de choque para tendinopatia crônica selecionada.
  6. Retorno gradual ao esporte com progressão de carga monitorada.
  7. Cirurgia em falhas do tratamento conservador, com reparo do retináculo e profundamento do sulco quando indicado.

Exercícios simples para fazer em casa

  • Alongamento de panturrilha apoiado na parede, 30 a 45 segundos, 3 a 5 vezes por lado.
  • Fortalecimento em eversão com faixa elástica, 3 séries de 12 a 15 repetições.
  • Elevação na ponta dos pés, bilateral e depois unilateral, 3 séries de 10 a 12.
  • Equilíbrio unipodal por 30 a 45 segundos, evoluir para olhos fechados.
  • Mobilidade do tornozelo em meia-lua, movimentos lentos e sem dor por 1 a 2 minutos.

Prevenção e cuidados no dia a dia

Compartilho com meus pacientes algumas precauções a serem adotadas no dia a dia:

  • Escolher calçados firmes, com bom contraforte e amortecimento.
  • Aquecer e alongar antes de treinos, respeitando a recuperação.
  • Progredir carga semanal com cautela, evitando saltos repetitivos em piso irregular.
  • Fortalecer quadril e core, melhor controle do valgo do joelho e do tornozelo.
  • Manter o peso corporal sob controle para reduzir sobrecarga articular.

FAQs

Tornozelo estalando sem dor é normal?

Geralmente sim. O som pode vir de bolhas de gás no líquido articular. Se o estalo vier com dor, inchaço ou instabilidade, procure avaliação.

Qual exame detecta subluxação dos peroneais?

O ultrassom dinâmico mostra o tendão deslizando fora do sulco durante o movimento. A ressonância complementa quando há suspeita de lesões associadas.

Posso treinar com o tornozelo estalando?

Se não há dor, treinos leves com técnica adequada costumam ser seguros. Com dor ou falseio, reduza a carga e inicie reforço e propriocepção guiados.

Quando a cirurgia é indicada?

Em casos de subluxação recorrente com falha do tratamento conservador, dor persistente ou instabilidade que limita atividades, o reparo do retináculo pode ser considerado.

Exercícios resolvem o estalo?

Exercícios de força, mobilidade e equilíbrio reduzem o estalo relacionado a instabilidade e tendinopatia. Quando há corpo livre ou lesão estrutural, outras abordagens podem ser necessárias.

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Ortopedista especialista em Pé e Tornozelo, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009-2011). Especialização em Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Universidade Federal de Goiás. Estágio em Pé e Tornozelo – Massachussets General Hospital Harvad University (2017).